sábado, 21 de junho de 2025

Quando o professor fala, quem escuta?


Comando, confiança e o desafio de construir autoridade na escola

A cena é mais comum do que gostaríamos de admitir: o professor entra na sala e os alunos estão em pé, conversando alto, jogando papel, mexendo no celular. Ele pede silêncio, mas poucos obedecem. Tenta começar a explicação, é interrompido várias vezes, e acaba elevando o tom. Ao ameaçar chamar a coordenação, ouve de um aluno:

— “Com aquele outro professor a gente fica quieto, mas você grita demais.”

Exausto, o professor sai da aula se perguntando por que, com alguns colegas, os alunos escutam — e com ele, não. A resposta para essa pergunta não está no carisma ou em fórmulas prontas. Ela exige uma reflexão profunda sobre o que significa ter autoridade hoje e como ela se constrói na prática docente.

Autoridade não é grito nem cargo

É comum confundirmos autoridade com autoritarismo ou comando. Mas são coisas diferentes. Ter autoridade significa ser escutado e respeitado sem precisar impor pelo medo. Envolve coerência, presença e vínculo. É uma construção diária, que não depende do cargo, da idade ou de um “tom de voz mais firme”.

O autoritarismo, por outro lado, se baseia na rigidez e na punição. Ele até gera silêncio — mas um silêncio que não vem do respeito, e sim do medo. A consequência? Vínculos quebrados, bloqueios na aprendizagem e ambientes escolarmente frágeis.

Já o comando — o uso direto e assertivo da palavra — é necessário em momentos específicos, especialmente quando há riscos ou desorganização. Mas se for usado o tempo todo, desgasta a relação. Sem confiança, qualquer comando vira confronto.

Estudantes e famílias de um novo tempo

Os estudantes de hoje crescem em meio à tecnologia, à autonomia precoce e à linguagem visual. São mais questionadores, mas também mais inseguros emocionalmente. Precisam de conexão, sentido e segurança para aprender. Regras sem propósito, discursos sem escuta e gritos sem coerência perdem o efeito rapidamente.

As famílias, por sua vez, vivem sob muita pressão. Algumas estão desorientadas na educação dos filhos e acabam delegando à escola o papel de impor limites. Outras interferem demais, sem perceber o impacto disso na autoridade do professor. Há um desejo comum: professores firmes, mas humanos; que saibam acolher sem abrir mão de exigir.

E quem é o professor nesse cenário?

O professor atual atua sob uma carga emocional imensa. Lida com alunos mais exigentes e desafiadores, muitas vezes sem apoio institucional adequado. Em meio à cobrança por resultados e ao esvaziamento da valorização docente, ele pode acabar confundindo firmeza com dureza — ou, ao contrário, acreditando que acolher é o mesmo que ceder.

A verdade é que o professor precisa, hoje, tanto de formação emocional quanto pedagógica. Porque ensinar, mais do que transmitir conteúdo, é sustentar relações. E, diante de um mundo instável, é ele quem frequentemente é chamado a ser referência de equilíbrio.

Construindo autoridade na prática

Autoridade não nasce de uma postura impositiva. Ela se constrói com consistência, respeito e intencionalidade. Algumas práticas simples podem fazer muita diferença:

  1. Estabeleça rotinas claras desde o primeiro dia.
  2. Dê sentido às regras: explique o porquê de cada uma.
  3. Construa combinados com a turma — quando os alunos participam, eles se comprometem.
  4. Seja coerente: o que prometer, cumpra.
  5. Use a escuta como ferramenta de autoridade: ouvir é uma forma de comandar com respeito.
  6. Evite confrontos públicos: chame para conversar em particular sempre que possível.
  7. Mostre firmeza com empatia. Frases como “Entendo que está difícil, mas a regra vale para todos” comunicam cuidado e exigência ao mesmo tempo.
  8. Lembre-se: acolher e cobrar não são opostos — são complementares.

Autoridade não é algo que o professor impõe. É algo que se constrói. E, como toda construção, exige paciência, consistência e muito trabalho invisível. Mas os resultados aparecem: nas escutas atentas, nos olhares confiantes, nos vínculos que resistem mesmo quando o conteúdo já passou.

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